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Vicioso.


Tic. Tac. Névoas, embriaguez sobre um oceano aberto. Mar revolto em suicídio virtuoso. São os ossos que ficam à mostra durante o dia que pincelam de pó e ilusão o rosto dos palhaços. Para uns, a vida. Para outros, a morte. Almas em desarmônica relutância. Frases perdidas, pensamentos descompensados. Você não vê? O quê? Continuam clamando por misericórdia, ambos indecisos. Vinte anos se passaram. Nada mudou. O fim continua semeando o meio e o início se faz ausente perante o precipitar da alvorada. Ela deveria ter notado que o tempo está acabando. A ampulheta nunca virou. Continuem de olhos selados, caros amigos. Continuem sonhando acordados. Um dia, eu prometo, tudo será escuridão.
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Heart.

Você não deveria compartilhar daquilo o que eu sinto, pois é letal. Apenas feche os olhos e fuja enquanto há tempo, deixe-me sangrar sozinho dessa vez. Embora doce, é venenoso o que se derrama dos meus lábios, dissolvendo a pele, aniquilando os últimos resquícios da vida. Só não me perturbe mais com as verdades do mundo, eu não quero entender, tampouco ver as coisas como eles dizem que elas são. Se eu sou forte demais para ser tragado, então engula-me sem respirar, pois foi você quem me fez assim. Mas espere um minuto, não fuja agora. Volte aqui e termine o que começou, sweetheart. Veja-me no chão.

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Please, save me.


Eu não quero mais mentir, não quero mais fingir que está tudo bem, pois não está nada bem. Meus olhos continuam sorrindo para o desconhecido, esperando que assim não sejam consumidos pelas sombras que este traz. Mas nada passa de uma grande ilusão. Às vezes eu acho que estou caindo, flutuando em direção ao chão de alguma existência que se finda onde se principia a dor. É muito irônico para ser real, sabe? Tudo isso o que estou sentindo é muito pérfido para deter sentido. E eu, assim como você, continuo respirando. Todos os dias, antes de dormir, peço que Tânatos olhe por meu sono e, no mais profundo abismo de minha alma, imploro para que ele se apaixone por mim e me tome para si, de uma vez, livrando-me do fardo de acordar no dia seguinte. Então abro os olhos novamente. E sabe o que percebo? Eu não desejei forte o bastante na última noite, pois nesta manhã continuo pedindo por mais da vida, por mais doses daquela esperança imortal - aquela que nunca me deixa realmente. Eu me prendo nos meus próprios mitos, nas minhas únicas crenças infundadas, mas elas estão agora rebelando-se contra mim e tentando me destruir. Por quê? Foram elas quem no passado me mantiveram são, forte e resistente. Por que agora fazem isso comigo? Pedaços de sonhos fragmentados no chão. E ainda há você com esse sorriso lindo, em qualquer lugar do mundo, dizendo-me para não lhe esquecer. O que eu posso fazer? É você quem manda. E eu... Eu continuo aqui, dormindo acordado e brincando de não sofrer durante as manhãs em que anseio pelas noites tristes. Boa noite. 

"Eu sou o herói dessa história. Não preciso ser salvo."
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O confessar.

Eu poderia facilmente nomear essa sensação como tempos de inverno. Mas ainda há uma chama em mim, ínfima, quase ausente, que arde em algum lugar escuro, bruxuleante como estrelas de verão. Essa chama é o calor vital que me afasta da morte, resquício de uma esperança na qual os sonhos seriam experimentados com os olhos abertos - não apenas num intervalo de sono. Estaria tudo bem se "tempos de inverno" não fossem predominantes no lugar onde estou. Sinto minha alma lentamente abandonando o meu corpo. As luzes, fluorescentes, que me encantavam durante a infância estão todas apagadas agora. Posso dizer que sempre soube que haveria algo a ser feito, que existia alguém para ser encontrado, alguém que preencheria o vazio que se formou dentro de mim desde o nascimento. Hoje eu não sei mais. Uma nova perspectiva me visita, dizendo-me que eu poderia estar enganado. Talvez ainda haja alguma coisa para ser realizada, sim, mas é possível que eu tenha que fazê-la sozinho - superando o peso, contraditório seja, que aquele vazio me traz. E eu tenho medo, tenho medo de falhar.